segunda-feira, 10 de abril de 2017

Aparecimento de Sri Shyamananda Pandita

Extraído de "Sri Chaitanya: His Life & Associates" por Srila Bhakti Ballabh Tirtha Maharaj


Shyamananda encontra a tornozeleira de Srimati Radharani
Sri Shyamananda Prabhu foi servo de um servo de Subala em Krishna-lila. Era discípulo de Hridayananda ou Hriday Chaitanya, esse discípulo de Gauri Das Pandit. Gauri Das é Subala em Krishna-lila.

yam loka bhuvi kirtayanti hridayanandasya shishyam priyam
sakhye shri-subalasya yam bhagavatah preshthanushishyam tatha
sa shriman rasikendra-mastaka-manish citte mamaharnisham
shri-radhapriya-narma-marmasu rucim sampadayan bhasatam


Sri Shyamananda é conhecido neste mundo como um discípulo querido de Hridayananda; grandioso discípulo de Subala Sakha, o mais querido amigo do Senhor Supremo; ele é a joia dos apreciadores do êxtase sagrado. Que ele apareça dia e noite em minha mente, trazendo uma apreciação da essência das alegrias do amado de Sri Radha.
(Shyamananda-shataka)

Shyamananda Prabhu nasceu em uma noite de lua cheia de Chaitra em 1456 da era Shaka (1534 d.C.) na cidade de Dharenda Bahadurpura, próximo a estação de trem Kharigapura em Medinipura. Seus pais são Sri Krishna Mandala e Durika. A cidade natal de Krishna Mandala é Dandeshvara, localizada às margens do rio Suvarnarekha. A instrução a seguir é encontrada no  Gaudiya Vaishnava Abhidhana: “Sri Krishna Mandala vivia em um local chamado Ambuwa, próximo à Dandeshvara. Anteriormente, viveu em Gauda (parte da Bengala localizada às margens do rio Bhagirathi) e só mais tarde mudou-se para Dandeshvara, hoje fronteira de Orissa. Os discípulos de Shyamananda estabeleceram cinco principais postos nas cidades de Dharenda, Bahadurapura, Rayani, Gopiballabhapura e Nrisinghapura.”
Shyamananda Prabhu nasceu na subcasta Sadgopa, que se encaixa na categoria de jala-cala, ou seja, brahmanes que são autorizados a levar a água tocada por seus membros. Logicamente,  um Vaishnava está além das qualidades materiais e pode nascer em uma família de qualquer raça ou casta. Aquele que pensa mal dos Vaishnavas ou os julga com base em sua ração ou casta está destinado ao inferno.

arcye shiladhir gurushu naramatir vaishnave jati-buddhir
vishnor va vaishnavanam kali-mala-mathane padatirthe’mbubuddhih
shrivishnor namni mantre sakala-kalushahe shabda-samanya-buddhir
vishnau sarveshvareshe tad-itara-samadhir yasya va naraki sah


Aquele que considera a deidade uma mera pedra, o guru um ser humano comum, ou o Vaishanava um membro de uma determinada casta ou raça, que considera a água sagrada que banhou Vishnu ou os pés de um Vaishnava e pode destruir todos os pecados da era de Kali, uma água comum, que pensa que o nome ou mantra de Visnhu, que destrói todos os males, é igual a qualquer outro som, ou aquele que considera Vishu igual a qualquer outro, possui uma natureza infernal.
(Padma-purana)

Aquele que nasce em uma família de classe baixa não é desqualificado para praticar serviço devocional, nem aquele que nasce em uma família brahmínica de classe elevada ou pura é automaticamente qualificado para tal serviço. Qualquer um que se engaje na adoração do Senhor é uma grande pessoa; quem não O adora é rejeitado.
(Chaitanya Charitamrita 3.4.66-7)

na me bhaktash caturvedi mad-bhaktah shvapacah priyah
tasmai deyam tato grahyam sa ca pujyo yatha hy aham
Apenas conhecer os quatro Vedas não torna ninguém um devoto. Uma pessoa sem casta que é meu devoto é querida por mim. Devemos trocar presentes e alimentos, etc., com tal devoto porque ele é tão venerável quando Eu.
(Citação do Haribhaktivilasa.)

Antes do nascimento de Shyamananda, seus pais perderam vários filhos e juraram entregar seu próximo filho a Visnhu, caso ele sobrevivesse. Tendo sofrido tanto com essas perdas, o primeiro nome de Shyamananda foi Duhkhi, ou “infeliz”, para afastar uma posterior angústia.

Durika e Sri Krishna Mandala, pais de Shyamananda, mudaram-se para Dandeshvara. Seu pai era o melhor da casta Sadgopa, de caráter impecável. Krishna era tudo para ele e os devotos de Krishna são muito queridos. Não descreveremos as virtudes dos seus pais devido ao receio de aumentar o volume desse livro. Mas eles viveram anteriormente em Dharenda e Bahadurapura e algumas pessoas diziam que Shyamananda havia nascido ali. Nada podia impedir o seu nascimento, e ele nasceu após seus pais perderem muitos outros filhos. Devido a suas perdas anteriores, os seus pais o receberam com tristeza e o chamaram de Duhkhi.
(Bhakti-ratnakara 1.351-5, 359)
Sri Shyamasundara, a deidade adorada de Shyamananda

Seus pais realizaram todos os rituais apropriados, como a primeira ingestão de alimentos sólidos, corte do cabelo etc. Conforme crescia, passou a estudar a gramática do sânscrito. Seus pais ficaram muito felizes ao observar seus talentos e tendência religiosa. Após ouvir atentamente dos devotos as glórias de Gauranga e Nityananda, repetia-as para outras pessoas. Ao ouvir as atividades de Gaura-Nitai ou de Radha e Krishna, lágrimas fluíam como ondas de seus olhos. Também servia dedicadamente seus pais e eles lhe disseram para receber iniciação para se comprometer plenamente com o serviço ao Senhor. Duhkhi concordou e disse a eles que desejava receber disksa de Hriday Chaitanya, discípulo de Gauri Das Pandita, associado de Nityananda e Gauranga. Ao ir para Kalna com esse propósito, ele também teria a boa fortuna de ver o Ganges e nele se banhar, e por isso, seus pais alegremente o autorizaram a partir.


Ao chegar em Ambika Kalna, se prostrou aos pés de Hriday Chaitanya, que após conhecê-lo, com felicidade lhe entregou o mantra de Krishna e lhe deu o nome de Krishna Das. A partir desse momento, Duhkhi passou a ser conhecido como Duhkhi Krishna Das. Hriday Chaitanya ordenou-lhe que fosse para Vrindavana praticar bhajana. Embora ele não gostasse de se separar de seu Gurudeva, Duhkhi Krishna Das partiu para Vraja, primeiramente visitando Navadwipa e outros locais em Gauramandala, onde buscou as bênçãos dos Vaishnavas. Por fim, após passar muito tempo em peregrinação, chegou à Vrindavana, onde tornou-se completamente absorto na adoração à Radha e Shyamasundar.

Em Vrindavana, Duhkhi Krishna Das estudou as escrituras Vaishnavas sob a guia de Sri Jiva Goswami, erudito proeminente da sampradaya. Hriday Chaitanya ao ouvir sobre o entusiasmo com o qual Duhkhi Krishna Das estava conduzindo sua vida devocional em Vraja, escreveu uma carta para Jiva Goswami dizendo que Duhkhi deveria considerar Jiva uma extensão de si mesmo. Jiva concedeu títulos para seus três alunos mais proeminentes, Srinivas, Narottama e Duhkhi Krishna Das, concedendo o nome de Shyamananda ao último. O motivo desse nome é que porque ele proporcionou muita alegria à Radha e Shyamasundara.

Enquanto em Vrindavan, recebeu o nome de Shyamananda por ter proporcionado muito alegria a Shyamasundra. Jiva ao observar suas atividades encantadoras, manteve-o por perto e o instruiu nas escrituras Vaishnavas.
(Bhakti-ratnakara 1.401-2)

Jiva Goswami enviou Srinivas Acharya, Narottama Das Thakur e Shyamananda para a Bengala com as escrituras Vaishnavas em 1504 da era Shaka (1582-3 d.C.). A ideia era difundir os ensinamentos encontrados nesses livros por toda a Bengala e Orissa. Os eventos ocorridos após Vira Hambira pegar os os livros roubados em Vishnupura constam no capítulo sobre Srinivas Acharya.
Narottama partiu rumo ao norte da Bengala e Shyamananda para Orissa. Nesta época, o distrito de Midnapore estava sob o domínio do rei de Orissa. Atualmente, há um braço da Gaudiya Math na cidade de Midnapore com o nome de Shyamananda Gaudiya Matha a fim de preservar sua memória sagrada.

A misericórdia especial de Radharani com Shyamananda
Shyamanda devolve a tornozeleira para Srimati Radharani
Embora Shyamananda Prabhu fosse um discípulo iniciado de Hriday Chaitanya, seu guru confiou os seus cuidados a Jiva Goswami Prabhu. Através da associação e do serviço prestado a Jiva, Shyamananda desenvolveu um gosto por servir Radha e Krishna no humor conjugal. Hriday Chaitanya Prabhu era discípulo de Gauri Das Pandit, um dos doze Gopals, Subala Sakha. Ele adorava Gaura-Nitai no amor de amizade. Aqueles que pensam que Shyamananda cometeu ofensa contra o seu mestre espiritual por abandonar esse humor e por tentar servir diretamente Krishna em um humor mais elevado, estão errados. O humor de amizade está dentro do humor conjugal. Se um discípulo progride mais na vida espiritual, ele aumenta a reputação do seu mestre.

Um incidente extraordinário, ocorrido em Vrindavana antes de Jiva ordená-lo a voltar para Orissa, demonstra o quão Shyamananda era querido por Radharani. Certo dia, Shyamananda Prabhu estava varrendo a Rasa-mandala em Vrindavan, absorvido em transe extático. De repente, por misericórdia transcendental de Radharani, encontrou sua tornozeleira caída no chão. Em êxtase, colocou a peça na sua testa, o que deixou uma marca, até hoje preservada pelos discípulos descendentes de Shyamananda. Ela é conhecida como nupura-tilaka. 


A pregação de Shyamananda Prabhu

Narottama Thakur e Shyamananda pregaram especialmente a mensagem de Mahaprabhu através de kirtanas. Srinivas cantava os kirtanas em um estilo chamado Manohara-sahi, Narottama em Gariana-hati e Shyamananda em Reneti. Ele encantava os os ouvintes com seu canto sincero de kirtana. Estes estilos já não existem mais.
Como resultado da sua pregação em Orissa, muitos muçulmanos se tornam discípulos de Shyamananda. O mais importante dos seus inúmeros discípulos foi Rasika Murari. Rasikananda era filho de Achyutananda, o zamindar da vila Rohini. Ele tinha outro nome, Murari, portanto, era mais comumente conhecido como Rasika Murari. Ele era um pregador muito poderoso, e sua fama ainda é difundida nas vilas de Orissa. Uma lista com alguns dos proeminentes discípulos de Shyamananda  é citada no Bhakti-ratnakara:

Shyamananda fez discípulos em todos os lugares. Uma pessoa pode ser purificada por ouvir seus nomes: Radhananda, Purushottam, Manohara, Cintamani, Balabhadra, Jagadishvara, Uddhava, Akrura, Madhuvana, Govinda, Jagannath, Gadadhara, Anandananda e Radhamohana. Shyamananda estava constantemente imerso nas alegrias de kirtana na associação desses discípulos. Poetas descreveram seus passatempos maravilhosos para o prazer de todos.
(Bhakti-ratnakara 15.62-66)

Além destes discípulos, Shyamananda converteu um yogi chamado Damodara. Narahari Chakravarti  escreveu o seguinte relato sobre essa conversão:

Havia um praticante de yoga chamado Damodara. Shyamananda misericordiosamente inundou-lhe com rasa devocional. Após se tornar seu discípulo, Damodara chorou e cantou os nomes de Nitai-Chaitanya. Ele permanecei intocado pela sua absorção em êxtase. Ele dançou, clamando "Bhakti é o melhor de todos!" Após liberar Damodara, Shyamananda continuou viajando, distribuindo a joia da devoção para todos.
(Bhakti-ratnakara 15.55-8)
Tilaka-sthana, local de manifestação da tilaka de Shyamananda
Shyamananda realizou um grande festival em Dharenda com Rasika Murari e Damodara, ainda lembrado nos dias de hoje. Ao deixar este mundo, Shyamananda entregou o serviço de Govinda em Gopivallabhapura. Os discípulos de Shyamananda e seus descendentes ainda adoram sua deidade de Radha-Shyamasundara em Vrindavana. Este templo é um dos principais locais de peregrinação em Vrindavana.
Shyamananda Prabhu viveu seus últimos dias em Nrisinghapura em Orissa, onde continuou pregando o Vaishnavismo. Seus passatempos terrenos chegaram ao fim no primeiro dia da lua minguante no mês de Asharh, em 1552 da era de Shaka (1630 d.C.).




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Tradução: Madhukari Radhika devi dasi
Revisão: Ramananda das (Felipe D’Aviz)
Fonte: BVML

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